sexta-feira, 27 de maio de 2011

Resenha 2 - São Bernardo, de Leon Hirszman

Espelho de um conflito humano

Ao assistir este filme devo confessar meu mal estar. Mal estar físico mesmo. Senti-me cansada, um peso enorme sobre meus ombros e um sentimento inquietante de fragilidade. O que forma o ser humano? Em que momento nos perdemos? Até que ponto nossas ações atingem o outro? Tantas coisas acontecem que endurecem nossos corações e nem mesmo percebemos.

Seu Paulo tinha um sonho, desejava possuir a fazenda em que ele trabalhou tão arduamente quando menino. Uma busca pela superação de si mesmo. Um menino que não possuía nada, nem mesmo família, um dia se tornar o dono do lugar que traz tantos símbolos de grandeza para ele. Sim, superação ele queria, e para isso ele não mediu esforços e sacrifícios, sacrifícios esses não só do próprio Paulo Honório, mas daqueles a sua volta.

Seu Paulo somos nós, com nossos padrões do que é vencer pré-estabelecidos, com nossos olhos naquilo que não temos. Do que temos coragem de abrir mão para consegui-lo?

Muitas vezes abrimos mão de nossa própria humanidade, da nossa capacidade de nos compadecer e nos ver semelhantes aos outros e o próximo torna-se apenas um concorrente, uma pedra no caminho, um degrau, um acessório. Formas sem rostos ou sentimentos, avaliados de acordo com o quão atrapalham ou auxiliam em nossos planos. “São apenas bichos, nasceram bichos, morrerão bichos”.

Não percebemos o quão fechados estão nossas mentes e corações na busca cega do que “achamos” que precisamos e deixamos nos perder. Nossos olhos estão fechados para a nossa Madalena. Madalena que é a compreensão, a doçura, o amor, a simplicidade. Não há lugar para Madalena em nossas vidas, mas ela esta lá, sendo negligenciada, sufocada. Sua presença causa desconforto por que não a compreendemos mais. Mas nós a queremos desesperadamente.

Agora chegamos ao conflito maior, pois todas as certezas que tínhamos foram confrontadas.  Faz parte do ser humano amar, mas nós nos deixamos esquecer disto pelo mundo competitivo em que todos são meus inimigos, e ai é tarde demais, Madalena já se foi e tudo que queríamos tanto, sem o afeto, a compreensão, a proximidade com o outro, já não possui mais sentido.

Esse filme é o retrato do que vivemos hoje. Foi, é e será sempre difícil e impactante de se ver porque retrata a jornada de um personagem impressa na nossa própria e nos mostra o fim que poderemos chegar, teremos tudo e estaremos vazios e sós.

Aline Oliveira da Silva. Estudante do curso de Design na Universidade Federal de Pernambuco - Campus Acadêmico do Agreste, Caruaru/PE.

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