quarta-feira, 22 de junho de 2011

Formação em Cinema no Recife

Aproveitamos para divulgar as informações enviadas pelo Marcone, integrante do Laia de Camaragibe. (http://cineclubedalaia.blogspot.com)

CURSO AUDIOVISUAL E PRÁTICAS SOCIAIS


A rede Coque Vive oferece a estudantes da UFPE, e demais interessados, um curso que problematiza o audiovisual através de diversas perspectivas teóricas: as práticas do campo do documentário, as práticas do jornalismo televisivo, além de suas relações com o consumo e com a questão do poder na nossa sociedade. Trata-se de estimular uma compreensão da produção audiovisual através da discussão de seus aspectos ético-estéticos e sócio-históricos, tomando-o como instância de transformação capaz de agendar e de fazer circular socialmente diferentes valores.
O curso está dividido em 4 módulos temáticos, de 8h cada. Cada módulo inclui dois tipos de encontro: uma aula expositiva, e a exibição e o debate de um produto audiovisual em articulação com a programação do Cine Coque. O curso inclui ainda palestra com realizadores de audiovisual conhecidos nacionalmente, totalizando uma carga horário de 40h.
As inscrições devem ser feitas via email (cineclubecinecoque@gmail.com) e os interessados devem enviar um pequeno currículo (5 linhas) juntamente com a indicação de um produto audiovisual e a justificativa para tal escolha (máximo 10 linhas). Ao final do curso, os participantes deverão produzir um comentário crítico a respeito de uma produção que aborde alguma das questões trabalhadas ao longo dos módulos temáticos. Os cursistas que cumprirem 70% da carga horária total do curso e realizarem a produção final receberão um certificado de participação.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
Módulo 1 – Audiovisual e Práticas documentais
19/08 (tarde): Aula expositiva: professora Cristina Teixeira (DCOM/PPGCOM)
26/08 (tarde): Exibição crítica de filme no Cine Coque. Mediador: Vinícius Andrade (mestrando PPGCOM)

Módulo 2 – Audiovisual e Práticas Telejornalísticas
16/09 (tarde): Aula expositiva: professora Yvana Fechine (DCOM/PPGCOM)
23/09 (tarde): Exibição crítica de filme no Cine Coque. Mediador: João Vale Neto (Secretaria de Cultura PE, Projeto Coque Vive)

Módulo 3 – Audiovisual e Consumo
21/10 (tarde): Aula expositiva: professora Maria Eduarda da Mota Rocha (DCS/PPGS)
28/10 (tarde): Exibição crítica de filme no Cine Coque. Mediador: Ridivanio Procópio da Silva (Movimento Arrebentando Barreiras Invisíveis)

Módulo 4 – Audiovisual e Poder
11/11 (tarde): Aula expositiva: professor Alexandre Simão Freitas (DAEPE/PPGE)
18/11 (tarde): Exibição crítica de filme no Cine Coque. Mediadora: Carolina Dantas (doutoranda PPGCOM)

SERVIÇO:
O quê: Curso Audiovisual e Práticas Sociais
Quando: agosto a novembro (2011) com dois encontros por mês
Onde: auditório do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) – Centro de Artes e Comunicação (CAC) da UFPE
Carga horária: 40h
Vagas: 40
Inscrições: 13 a 30 de junho (por email)

Fotos de Camaragibe

Turma de Camaragibe com Raquel do Monte
Integrantes do cineclube da Laia participaram do curso





Resenha – Menino de Engenho, de Walter Lima Júnior

História e saudade

A obra Menino de Engenho fez sucesso tanto na literatura quanto no cinema brasileiro. Coincidentemente foi a primeira produção de dois grandes nomes: José Lins do Rego e Walter Lima Júnior. O livro lançado em 1932 e o filme em 1965 determinaram a carreira brilhante de seus produtores.
Carregada de saudosismo, a história mostra a trajetória de um garoto que passa sua infância num engenho de açúcar nordestino dentro de um contexto cultural e econômico que mostra o processo de industrialização da produção açucareira.
A paisagem natural ampla da fazenda, a linguagem crítica sobre a sociedade e a abordagem do contexto histórico-social evidenciam a relação dos trabalhos de Walter com o Brasil, além de mostrar sua capacidade de dar veracidade a seus personagens.
José Lins do Rego fez uma obra memorialista, mas a reprodução deste trabalho para o cinema mostra o olhar de alguém com uma visão crítica de toda aquela situação. Em alguns pontos do filme, isso pode ser observado claramente, pois apresenta um tempo diferente do abordado no livro: já com luz elétrica e a proibição de escravos no tronco.
Filmado em preto e branco no Engenho de Maria Menina, mulher que criou José Lins do Rego, o filme se desenvolve a partir do impacto do assassinato da mãe de Carlinhos (personagem vivenciado por Sávio Rolim) pelo seu pai, fator que resulta na ida do menino para Santa Rosa, fazenda que pertencia ao seu avô materno, o coronel José Paulino (interpretado por Rodolfo Arena).
No engenho, aos cuidados dos avós e dos tios, Carlinhos descobriu a realidade do nosso país e conviveu harmoniosamente com ela: conheceu a desigualdade social; quase partiu para o cangaço; relacionou-se com primos extrovertidos e libertinos; perdeu a prima Lili, por quem nutria uma forte afeição; presenciou a violência da natureza, com a cheia do Paraíba; descobriu o amor pela prima Maria Clara, que durou pouco, até a volta da menina para o Recife; viveu de forma desregrada; e, por fim, como punição pelas suas libertinagens, o garoto foi enviado para um colégio longe da paradisíaca liberdade da fazenda em um trem deixando Santa Rosa e iniciando um período de lembranças, saudades e expectativas.
O filme ganhou importantes premiações no Brasil e no exterior e foi sucesso de bilheteria em todo país. Hoje, está na lista dos clássicos da cinematografia brasileira.

Flaviana América Silva Dantas de Souza. Professora de Língua Portuguesa das escolas estaduais Rachel Germano Azevedo de Lira, em Paudalho, e Profª. Alice de Barros Maurício, em Camaragibe.
Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa.

Resenha - Durval Discos, de Anna Muylaert

O filme tem como trama um vendedor de discos de vinil que se recusa a aderir ao novo mercado de vendas de cd’s. É solteirão e mora com sua mãe no sobrado da loja. Suas vidas tomam rumos inesperados com o aparecimento, em sua casa, de uma criança que fora deixada pela sua empregada.

O enredo do filme possibilita refletirmos sobre questões relacionadas a mudanças e permanências. Percebe-se nas personagens uma resistência ao novo e certa nostalgia com o passado revelado, inclusive, na forma como ele mantem o seu visual. Por outro lado, a própria mãe resiste à necessidade de ter alguém para lhe ajudar no serviço de casa utilizando, inclusive, a remuneração baixa para dificultar a contratação.

As escolhas que os personagens fizeram os levaram ao isolamento, sendo também compartilhado com a vendedora de sorvete ao lado da loja que busca o refúgio na loja para fumar, possibilitando-nos entender como a metáfora da fuga se aplica em muitos desejos, até no vício de fumar. No entanto, o aparecimento de uma criança mostra o outro lado da vida, é como um renascer tanto para a mãe como para o filho. A mudança se traduz na forma como passam a aceitar a criança como parte da família.

A falta de algo em suas vidas é completada com a presença da criança. Mas, como tudo que é novo seduz e é motivo de apreensão, medo e até angústia, a reviravolta em suas vidas será confirmada com a notícia de que a criança tinha sido sequestrada pela empregada, que não passava de uma bandida. A impossibilidade da senhora de encarar a perda da menina leva-a a progredir na insanidade e a assassinar a amiga do filho descobre a verdadeira história da criança. O bizarro e surreal se concretiza quando a mãe coloca um cavalo no quarto para a criança brincar e a deixa pintar a parede com o sangue da moça morta.

As incertezas sobre as ações a tomar, diante de tanto caos, se traduz na angústia do personagem e na interpretação corporal do mesmo, permitindo o questionamento: como deixou tudo isso acontecer? A coragem de chamar a polícia para acabar com tanta confusão remete a ideia de liberdade, principalmente quando sai da casa, mas não é preso.

A cena final de demolição da loja e casa nos remete a mudança radical. No entanto, percebe-se que não há participação do personagem no cenário, deixando-nos indagações: será que realmente houve mudança no seu interior?

Acredito que o filme nos remete a essas questões psicológicas, filosóficas e históricas sobre o homem em convívio consigo e com os outros, a dor de perceber que para crescer ou mudar é necessário encarar as perdas, os erros, sendo inevitável o sofrimento, mas até que preço?

Philonila Cordeiro, Professora de História e Filosofia da EREM Silva Jardim.

Fotos de Jaboatão dos Guararapes


A professora Raquel do Monte e


a turma de professores na EREM Rodolfo Aureliano.

Resenha - Tapete Vermelho, de Luiz Alberto Pereira


O cinema nacional deve muito ao sertanejo. Quando menos se espera, o sertão aparece. Esquecido, escamoteado, disfarçado, o sertão é um segredo. O oculto, a causa, o que está fora ou o sagrado. Quando sua perda se oficializa, o sertão que é a arte, o camponês, a paisagem, é que o descobrimos. O cinema nacional caipira enfrentou durante décadas uma crítica ferrenha e sobreviveu, por uma comunicabilidade mágica com seu povo pouco letrado. Grande parte das produções brasileiras das décadas de 60, 70 e 80 que se tornaram sucesso de bilheteria tinha o sertanejo como temática ou então ídolos da cultura local, como Sergio Reis e as duplas Milionário e José Rico e Tonico e Tinoco. Mas, sem dúvida, ninguém incorporou melhor o espírito caipira do que Amâncio Mazzaropi. Em um mercado cinematográfico frágil, com produções carentes de bilheteria e distribuição, produziu e atuou em mais de 30 filmes. Sempre retratando a pureza do homem do campo – o jeca tatu, sua maior expressão – levou mais de 20 milhões de espectadores aos cinemas ao longo de sua carreira. Mais do que justo que um cineasta como ele recebesse uma justa homenagem. Tapete Vermelho poderia ser uma boa oportunidade. Poderia. Os elementos para o resgate foram reencontrados. A beleza das paisagens do interior brasileiro, em especial o interior paulista, a ótima trilha sonora, uma produção de qualidade e um dos melhores atores brasileiros da atualidade - Matheus Nachtergaele. Então, o que há de errado? Mazzaropi foi um gênio. Sua caricaturização do caipira era autêntica, original. Nachtergaele compõe seu personagem de maneira correta. Porém exagera, até parecer demasiado forçado em algumas cenas. O que é uma pena, pois certamente era essa a intenção, o estereótipo. O roteiro parte de uma premissa inteligente. O caipira que irá fazer de tudo para cumprir uma promessa a seu filho e levá-lo para ver um filme de Mazzaropi no cinema. Mas a maneira como a história se desenvolve parece um tanto apressada. Ou melhor, forçada. Em meio a esquetes inteligentes, os fatos acontecem repentinamente, sem muita lógica ou rodeios, para que a história possa caminhar. Nem sempre de maneira convincente. Rosa Maria Nepomuceno, uma das autoras, tem um trabalho brilhante no resgate da cultura sertaneja. E demonstra isso na ambientação da história. Mas seus méritos param por aí. Os diálogos parecem frágeis e a condução da história em seus pontos de virada apressada.  Aliás, essa pressa é nítida na fala e em alguns planos dos atores, que não convencem e parecem não ter se preparado (ou terem tido o tempo necessário) para compor seus papéis (a cena do pescador que mantém um diálogo com Matheus e seu filho é um exemplo). A maneira como o campo mudou nessas últimas décadas é mais um bom motivo para se ver o filme. Ela está presente, em diversos detalhes, ao longo do filme. Mais aí surge um novo problema. A abordagem sobre a reforma agrária, através do MST é válida. Mas, novamente, forçada e deslocada. O filme não decola justamente por não se decidir em ser crítico ou ser caricato. Tenta fazer os dois e acaba por não fazer bem nem um nem outro. Gorete Milagres é uma exceção e conduz seu personagem – a esposa de Quinzinho – com muita segurança, na medida certa, como faz com seu principal sucesso, a Filomena, que a revelou como grande humorista na televisão. A intenção de Tapete Vermelho era ótima. O resultado, nem tanto. Mazzaropi merecia coisa melhor. E como Quinzinho, também queremos ver os filmes do verdadeiro Mazzaropi no cinema. E não precisa nem de tapete vermelho.

Maciel de Oliveira, Professor de Português da EREM Rodolfo Aureliano,  Jaboatão dos Guararapes.