quarta-feira, 22 de junho de 2011

Resenha - Durval Discos, de Anna Muylaert

O filme tem como trama um vendedor de discos de vinil que se recusa a aderir ao novo mercado de vendas de cd’s. É solteirão e mora com sua mãe no sobrado da loja. Suas vidas tomam rumos inesperados com o aparecimento, em sua casa, de uma criança que fora deixada pela sua empregada.

O enredo do filme possibilita refletirmos sobre questões relacionadas a mudanças e permanências. Percebe-se nas personagens uma resistência ao novo e certa nostalgia com o passado revelado, inclusive, na forma como ele mantem o seu visual. Por outro lado, a própria mãe resiste à necessidade de ter alguém para lhe ajudar no serviço de casa utilizando, inclusive, a remuneração baixa para dificultar a contratação.

As escolhas que os personagens fizeram os levaram ao isolamento, sendo também compartilhado com a vendedora de sorvete ao lado da loja que busca o refúgio na loja para fumar, possibilitando-nos entender como a metáfora da fuga se aplica em muitos desejos, até no vício de fumar. No entanto, o aparecimento de uma criança mostra o outro lado da vida, é como um renascer tanto para a mãe como para o filho. A mudança se traduz na forma como passam a aceitar a criança como parte da família.

A falta de algo em suas vidas é completada com a presença da criança. Mas, como tudo que é novo seduz e é motivo de apreensão, medo e até angústia, a reviravolta em suas vidas será confirmada com a notícia de que a criança tinha sido sequestrada pela empregada, que não passava de uma bandida. A impossibilidade da senhora de encarar a perda da menina leva-a a progredir na insanidade e a assassinar a amiga do filho descobre a verdadeira história da criança. O bizarro e surreal se concretiza quando a mãe coloca um cavalo no quarto para a criança brincar e a deixa pintar a parede com o sangue da moça morta.

As incertezas sobre as ações a tomar, diante de tanto caos, se traduz na angústia do personagem e na interpretação corporal do mesmo, permitindo o questionamento: como deixou tudo isso acontecer? A coragem de chamar a polícia para acabar com tanta confusão remete a ideia de liberdade, principalmente quando sai da casa, mas não é preso.

A cena final de demolição da loja e casa nos remete a mudança radical. No entanto, percebe-se que não há participação do personagem no cenário, deixando-nos indagações: será que realmente houve mudança no seu interior?

Acredito que o filme nos remete a essas questões psicológicas, filosóficas e históricas sobre o homem em convívio consigo e com os outros, a dor de perceber que para crescer ou mudar é necessário encarar as perdas, os erros, sendo inevitável o sofrimento, mas até que preço?

Philonila Cordeiro, Professora de História e Filosofia da EREM Silva Jardim.

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