quarta-feira, 22 de junho de 2011

Resenha - Tapete Vermelho, de Luiz Alberto Pereira


O cinema nacional deve muito ao sertanejo. Quando menos se espera, o sertão aparece. Esquecido, escamoteado, disfarçado, o sertão é um segredo. O oculto, a causa, o que está fora ou o sagrado. Quando sua perda se oficializa, o sertão que é a arte, o camponês, a paisagem, é que o descobrimos. O cinema nacional caipira enfrentou durante décadas uma crítica ferrenha e sobreviveu, por uma comunicabilidade mágica com seu povo pouco letrado. Grande parte das produções brasileiras das décadas de 60, 70 e 80 que se tornaram sucesso de bilheteria tinha o sertanejo como temática ou então ídolos da cultura local, como Sergio Reis e as duplas Milionário e José Rico e Tonico e Tinoco. Mas, sem dúvida, ninguém incorporou melhor o espírito caipira do que Amâncio Mazzaropi. Em um mercado cinematográfico frágil, com produções carentes de bilheteria e distribuição, produziu e atuou em mais de 30 filmes. Sempre retratando a pureza do homem do campo – o jeca tatu, sua maior expressão – levou mais de 20 milhões de espectadores aos cinemas ao longo de sua carreira. Mais do que justo que um cineasta como ele recebesse uma justa homenagem. Tapete Vermelho poderia ser uma boa oportunidade. Poderia. Os elementos para o resgate foram reencontrados. A beleza das paisagens do interior brasileiro, em especial o interior paulista, a ótima trilha sonora, uma produção de qualidade e um dos melhores atores brasileiros da atualidade - Matheus Nachtergaele. Então, o que há de errado? Mazzaropi foi um gênio. Sua caricaturização do caipira era autêntica, original. Nachtergaele compõe seu personagem de maneira correta. Porém exagera, até parecer demasiado forçado em algumas cenas. O que é uma pena, pois certamente era essa a intenção, o estereótipo. O roteiro parte de uma premissa inteligente. O caipira que irá fazer de tudo para cumprir uma promessa a seu filho e levá-lo para ver um filme de Mazzaropi no cinema. Mas a maneira como a história se desenvolve parece um tanto apressada. Ou melhor, forçada. Em meio a esquetes inteligentes, os fatos acontecem repentinamente, sem muita lógica ou rodeios, para que a história possa caminhar. Nem sempre de maneira convincente. Rosa Maria Nepomuceno, uma das autoras, tem um trabalho brilhante no resgate da cultura sertaneja. E demonstra isso na ambientação da história. Mas seus méritos param por aí. Os diálogos parecem frágeis e a condução da história em seus pontos de virada apressada.  Aliás, essa pressa é nítida na fala e em alguns planos dos atores, que não convencem e parecem não ter se preparado (ou terem tido o tempo necessário) para compor seus papéis (a cena do pescador que mantém um diálogo com Matheus e seu filho é um exemplo). A maneira como o campo mudou nessas últimas décadas é mais um bom motivo para se ver o filme. Ela está presente, em diversos detalhes, ao longo do filme. Mais aí surge um novo problema. A abordagem sobre a reforma agrária, através do MST é válida. Mas, novamente, forçada e deslocada. O filme não decola justamente por não se decidir em ser crítico ou ser caricato. Tenta fazer os dois e acaba por não fazer bem nem um nem outro. Gorete Milagres é uma exceção e conduz seu personagem – a esposa de Quinzinho – com muita segurança, na medida certa, como faz com seu principal sucesso, a Filomena, que a revelou como grande humorista na televisão. A intenção de Tapete Vermelho era ótima. O resultado, nem tanto. Mazzaropi merecia coisa melhor. E como Quinzinho, também queremos ver os filmes do verdadeiro Mazzaropi no cinema. E não precisa nem de tapete vermelho.

Maciel de Oliveira, Professor de Português da EREM Rodolfo Aureliano,  Jaboatão dos Guararapes.

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