sexta-feira, 29 de abril de 2011

Resenha - Filme Baile Perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas

Re-invenção pop

Beber em antigas fontes, para renascer pleno para a modernidade. Esta talvez seja a premissa básica do filme “Baile Perfumado” de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, ou pelo menos é a sensação que tive, enquanto espectador, ao assisti-lo numa quinta-feira chuvosa, na sessão do “Curso de História de Cinema no Brasil” ministrado pela professora Amanda Mansur na Escola Polivalente, em Vitória de Santo Antão.

Com uma trilha sonora que remete ao período áureo do mangue beat de Chico Science ( o filme é contemporâneo a esta época – 1996/1997 ) e imagens restauradas e únicas de Lampião e seu bando feitas pelo tal mascate libanês Benjamin Abrahão (no filme, vivido pelo ótimo Duda Mamberti ), o “Baile” proporciona ao espectador uma oportunidade única de entretenimento de qualidade e mergulho em parte da vida de uma das mais controversas figuras da história do Brasil: Virgulino Ferreira, o Lampião. Este, que parece “ressuscitar do além” através da caracterização e interpretação de Luiz Carlos Vasconcelos. Não é a toa que muitos tenham assistido ao filme sem perceber que o Lampião original é quem aparece nas imagens em preto e branco. O mesmo vale para a vaidosa Maria Bonita e o resto do bando.

Outro aspecto relevante e que parece ser uma constante na arte nacional pode ser notado na obra: é o olhar estrangeiro para o nosso país. A história é contada pela ótica do libanês Benjamim, o que faz com que os fatos sejam analisados sob a perspectiva de uma nova visão. Assim também foi com a nossa literatura, que tem como marco inicial uma carta, escrita por um português - Pero Vaz de Caminha, sobre o Brasil. Fato que se repete nas primeiras imagens cinematográficas brasileiras, nos primórdios ( assim aprendi no curso itinerante de cinema ).

Desta forma, há um misto de encantamento e estranhamento que pode ser percebido ao longo das falas do personagem central, proporcionando ao público do filme uma reflexão sobre a história do cangaço e sobre a importância de seu líder maior. O Lampião carrasco e sanguinolento, tão difundido ao longo da cultura nordestina, dá lugar a um Lampião pop, deslumbrado com o uísque escocês, o perfume francês e a danada da máquina fotográfica; embalado pelo som do Mestre Ambrósio, do Mundo Livre S/a e da Nação Zumbi.

Essencial para o renascimento do cinema pernambucano contemporâneo. Essencial para os amantes da sétima arte ávidos por obras originais e por propostas cinematográficas diferenciadas. É neste grupo de espectadores que me incluo.

Rodrigo Andrade, Professor de Língua Portuguesa, Escola Senador João Cleófas, Vitória de Santo Antão

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