sexta-feira, 29 de abril de 2011

Resenha - O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte


A história de Zé do Burro, um humilde agricultor do interior da Bahia que sai do seu sítio, para a capital Salvador, pagar uma promessa feita a Santa Barbara.  Com roteiro adaptado de uma peça teatral escrita por Dias Gomes, “O Pagador de Promessas”, descortina-se em uma dura crítica a nossa sociedade, tendo como base a religião, a imprensa e as autoridades.

Vemos na figura do personagem principal, Zé do Burro, o herói – o homem dotado de virtudes altruístas que o coloca acima dos demais, mas não reconhecendo o mal que o rodeia – por isso mesmo, Zé torna- se um instrumento nas mãos dos outros, para que esses possam aproveitar-se dele em proveito próprio, como a imprensa, que usa o fato dele ter distribuído suas terras a lavradores necessitados, já o colocando como defensor da reforma agrária. O cafetão Bonitão, que finge querer ajudá-lo, mas na verdade o que quer é seduzir sua esposa Rosa e até mesmo a Igreja Católica, que vê na situação uma oportunidade de demonstrar força perante a população e contra os umbandistas.

Zé do burro não consegue entender o por quê de não poder pagar sua promessa, pois o sacerdote responsável pela igreja, Padre Olavo, quando fica sabendo que a promessa foi feita em um terreiro de umbanda, para salvar a vida de um burro, acha heresia por parte de Zé do Burro querer colocar uma cruz “como a que Cristo carregou” no altar do templo religioso.

Interessante frisar como o filme mostra essa característica do povo brasileiro, esse sincretismo existente, onde as pessoas conseguem muitas vezes unir os dogmas católicos, com as religiões de origem africana no seu dia-dia de forma natural, como se fossem uma mesma religião, em especial quando fala-se na Bahia.
Inserido historicamente dentro do movimento do Cinema Novo brasileiro, “O Pagador de Promessas”, mostra de forma marcante as características desse movimento, onde por exemplo a crítica a realidade brasileira de forma crua, sendo esse aspecto mais notado no texto de Dias Gomes onde observamos, o uso de ironias, expressões ou gírias usuais para os personagens retratados, além das interpretações inspiradas do elenco.

O filme não tem a preocupação de mostrar os personagens de forma amena, os mostra de um ângulo realístico brutal, no que concerne as suas personalidades, defeitos e anseios, seja na inocência de Zé do Burro, na intransigência do Padre Olavo, na falta de caráter de Bonitão ou na falta de sensibilidade do povo perante a angustia do protagonista.  Não por acaso ganhador da Palma de Ouro em Cannes e durante anos o único filme nacional a concorrer ao Oscar, filme reflexivo do melhor do cinema brasileiro.

Emmanuel Davison, professor da Escola Cardeal Roncalli, Vitória de Santo Antão-PE.



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